sábado, 2 de abril de 2011
Deusa Maat
Muitos séculos antes de as Leis Mosaicas, hoje conhecidas como “Os 10 Mandamentos”, serem apresentadas para reger uma comunidade humana em nome da Vontade de Deus a África já vivia sob a égide de uma Legislação Divina, as 42 Leis de Maat, uma série de Confissões Negativas nas quais o ser humano se eximia de transgressões perante a Ética. O bom-senso prevalecia, assim, sobre o instinto predador e as pessoas interagiam cada qual dentro de seu círculo, norteadas pelo princípio universal de que o direito de um termina onde começa o do outro. Maat, Deusa da Verdade, da Justiça, da Harmonia e do Equilíbrio, filha de Ra e esposa de Thoth (imagens abaixo), existe como Lei Cósmica que promulga a Moral com base na Ética Viva, que é abstrata e intocável. Essas 42 Confissões Negativas, introduzidas nos estudos de várias Ordens e Fraternidades esotéricas criadas pelos ocidentais, levam à Humanidade de hoje a profunda sabedoria do Antigo Egito (Kemet ou Khem), tanto através da Religião Khemetica como mediante estudos de instituições Rosacrucianas.
A Verdade
Por muitas vidas vi passar o frígido
inverno e a verde primavera.
Aprisionado em minha pequena alcova,
Eu não via a árvore inteira e todo o céu
Para mim, era aquela a Verdade.
Com a ação destruidora do tempo,
Minha janela cresceu.
E contemplei então
Um ramo com muitas folhas
E uma vasta expansão do céu, com
muitas nuvens, esqueci a folha verde
solitária e aquela nesga de imensidão azul.
Jurava que não existia a árvore, nem o céu imenso
Para mim, era aquela a Verdade.
Cansado da prisão,
Da estreita cela,
Revoltei-me contra minha janela,
Com os dedos a sangrar.
Arranquei tijolo após tijolo,
Contemplei então
A árvore inteira, seu tronco majestoso,
Seus ramos numerosos, suas miríades de folhas,
E uma imensa parte do céu.
Jurava que não existia outra árvore,
nem outra parte do céu
Era aquela a Verdade.
Aquela prisão já não me retém,
Saí a voar, através da janela,
Ó amigo,
Agora contemplo todas as árvores
E a vastidão do céu sem limites.
E embora eu viva em cada folha
E em cada nesga do vasto céu azul,
Embora eu viva em cada prisão,
a espreitar por estreitas frestas,
Sou livre.
Não! Nada mais me prenderá
Esta é a verdade.
Autor Krishnamurti
UM CAMINHO PARA DESCOBRIR-SE
Quem sou? Para onde eu vou? O que há depois? ...e uma infinidade de perguntas semelhantes a estas povoam a mente do ser humano. Entretanto, somente poucos se dedicam em encontrar alguma resposta.
Você não precisa ser um "expert" cabalista, um respeitável astrólogo ou um intrépido alquimista para conhecer as verdades que residem em seu interior. Temos sim, é que aproveitar o esforço e o conhecimento que nossos ancestrais nos deixaram como herança. Estamos imersos na energia de Maat, a Corrente da Verdade e do Equilíbrio, onde todos os seres da Criação devem sentar em seu trono. De onde a natureza e a humanidade, podem conviver com respeito mútuo.
MAS QUEM É MAAT?
Maat é a energia cósmica que tudo permeia, é a personificação da Verdade, da Justiça e da Harmonia Universal. Ela é a potência, o princípio metafísico, que mantém o mundo na sua regrada continuidade. O Cosmos, a Natureza, e a Sociedade, no fundo, a Ordem Universal, só se mantêm de forma duradoura exatamente pelo seu atento zelo.
Representada como uma mulher, de pé, sentada ou com um dos joelhos em terra, apresenta, fixada em uma fita da sua cabeleira, uma pluma de avestruz, que é o seu principal signo identificador. Em muitas representações, a simples figuração da pluma simboliza a sua presença e atuação.
Maat é a Senhora do Céu, Rainha da Terra e amante do Mundo Inferior. O grande inimigo de Maat era Seth, a versão egípcia do Ares grego, Deus da desordem de profunda ignorância, da injustiça e da ambição.
O PALÁCIO DAS DUAS VERDADES
Para os egípcios, o coração não era tão somente um órgão vital do corpo, mas era também a consciência, ou o centro do pensamento. Ele representava a voz de Maat no ser humano, a voz oracular da Ordem Cósmica que rasga o véu e penetra no mundo humano, o porta-voz oracular da lei da natureza, localizado no próprio corpo do indivíduo.
Maat também é "o olho de Rá" e os filhos de Rá sentavam-se nos tronos dos faraós. Deste modo, a lei e a justiça estavam unidas, e os árbitros da ordem natural e da ordem social eram um só, unidos em Maat e no faraó. Por intermédio do oráculo da Deusa, o coração, as leis e os costumes da vida social eram confirmados por uma intuição mais profunda de justiça e integrados nesse nível.
A DEUSA COMO UM IDEAL A SER ALCANÇADO
Atum (deus supremo) disse: "Quando os céus dormiam eu vivia com minha filha Maat, uma em mim, a outra ao meu redor", revelando o significado da "Dupla Maat": em um nível, a união do sul com o norte (alto e baixo Egito) e, em outro, a união da consciência individual e a consciência cósmica ou universal, para que se crie a harmonia.
Schwaller de Lubicz escreve a respeito:
"O princípio da harmonia é uma lei cósmica, a voz de Deus. Seja qual seja a desordem que o homem ou os acidentes naturais fortuitos possam provocar, a natureza, por si só, voltará à colocá-la em ordem através das afinidades (a consciência que habita em todas as coisas). A harmonia é a lei a priori escrita em toda a natureza: se impõe a nossa inteligência, porém em si mesma resulta incompreensível."
Portanto, Maat é a Deusa através da qual se faziam visíveis as leis fundamentais do universo. Encarna a verdade, a ordem justa, a legalidade e a justiça. Em certo sentido não está separada dos outros deuses e deusas, senão que, como divindade, é o princípio que nos leva à chegar em todos eles.
A Deusa como estado de existência parece abstrair-se da figura da própria Deusa; o que ocorre realmente é que esta distinção (entre Deusa e a idéia) não existem para os egípcios, como tampouco a distinção entre ética e metafísica, nem na vida, nem na morte.
Como se vê, os deuses egípcios não eram pessoas imortais para serem adoradas, mas sim ideais e qualidades para serem honradas e praticadas.
MAAT, UM CONCEITO ÉTICO DE VIDA
"Faze justiça enquanto durares sobre a Terra"
Todas as religiões têm um conteúdo moral ao lado dos objetos de culto e a moral básica dos egípcios tinha o nome de MAAT. Ela foi criada antes do mundo e através dela o mundo foi criado. É quase impossível traduzir a palavra com exatidão, mas ela envolvia uma combinação de idéias como "ordem", "verdade", "justiça" e "retidão". Considerava-se Maat uma qualidade não dos homens, mas do mundo, infundida neste pelos deuses no momento da Criação. Assim sendo, representava a vontade dos deuses ou a Vontade Cósmica (do Universo). A pessoa se esforçava para agir de acordo com a vontade divina porque essa era a única maneira de ficar em harmonia com os deuses. Para o camponês egípcio, Maat significava trabalho árduo e honesto, já para o funcionário, significava agir com justiça.
Durante as amargas dificuldades e a desilusão que flagelaram o mundo, descobriu-se a idéia que Maat não era apenas uma qualidade passiva inerente ao mundo, mas que os súditos do rei-deus tinham o direito de esperar que fosse praticada. Isso representava um passo para o desenvolvimento de um conceito de justiça social.
Portanto, é mais importante "conservar Maat" (isto é, obedecer a Lei) do que adorá-la. A própria Maat dá assistência nessa tarefa guiando, instruindo e inspirando a humanidade. Ela é a personificação da sabedoria!
Maat é portanto, a Deusa da Justiça e da Verdade, ligada ao equilíbrio (Libra) necessário para a convivência pacífica entre todos os seres. Maat rege o primeiro signo social do zodíaco egípcio. É filha de Rá, o Sol, e de um passarinho que, apaixonando-se pelo calor e pela luminosidade dos raios solares, subiu por eles até morrer queimado. No momento em que foi incinerado, uma pena voou pelos ares. Essa é a Deusa Maat. Sem Maat, a criação divina, que é a Terra e seus habitantes, não poderia existir, pois tudo se afundaria no caos inicial.
Maat toca todos os aspectos da vida: independência, situações familiares, amor, ódio, temor, enfermidade, morte, eternidade, solidão, propósito e eleições. Não há situação que não possa ser enquadrada no esquema da verdade.
A JUSTIÇA
Não se trata aqui da justiça dos homens, até porque esta justiça não está com seus olhos vendados, mas atenta para preservar a ordem social. A vida é sempre justa em relação a ela mesma. Não vacila. Atua de tal modo que tudo que provém dela a ela retorna. Nada se perde, tudo se regenera, se renova e se transforma. É este o sentido do número 8 deste arcano, o do equilíbrio cósmico, da ressurreição e da transfiguração. A Justiça nos permite tomar consciência de que, sem limites definidos, nada pode sobreviver ou subsistir no mundo. E a balança de Maat o que aqui significa? Ela pesa o bem e o mal, os prós e os contras, as vantagens e desvantagens, mede, calibra e julga.
Maat representa além do equilíbrio, a harmonia do Universo primordial. Tal equilíbrio necessita dessa Deusa que personifica a justiça. Maat nos lembra que "o que fizermos aos outros, a nós será feito".
Maat chega com sua pena da verdade para trazer justiça à sua vida.
Você já foi injustiçada(o)? Tem usado sua integridade para com os outros? Tem sido honesta(o), ou faz justiça com as próprias mãos? Tem mania de julgar todo mundo? Pois saiba que o julgamento é o fracasso da compreensão, não somos deuses para julgar ninguém. Talvez seus padrões sejam tão rígidos que você ache impossível atendê-los e se sente continuamente obrigada(o) a rebelar-se? Pois está na hora de você promover seu equilíbrio interior e interagir harmoniosamente com o universo. Maat vem lhe dizer que o caminho da totalidade só será conseguido se você aceitar a natureza amorosa da justiça que busca corrigir todos os erros ao dar as lições necessárias.
Amor é a Lei, Amor sob Vontade
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